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Marta Berger expõe afetos e solidão feminina na Artestil

A cor favorita é o azul turquesa. Da infância, uma das lembranças de Marta é a caixa de lápis de cor. Por padrão, eram doze: verde, vermelho, amarelo, branco, preto, rosa, e por aí vai. Às vezes escuro, às vezes claro, mas nada de verde musgo, vermelho bordô ou amarelo dente-de-leão. As cores ganham sobrenome quando uma tia lhe presenteia com uma caixa de 36. Entre elas, o azul turquesa: a cor da saudade de alguém que não se encontra mais.


A pessoa é a mãe. Talvez a tia, as irmãs, os filhos, mas, nas telas, é sempre mãe. Solitárias e silenciosas, com cara de paisagem, blasé, mãe e filha se enlaçam em afeto, proteção, fios de cabelo e vestidos da missa de domingo. Nos autorretratos, Marta aparece dividida. Em dois corpos, em araucárias e barquinhos. A artista, gaúcha, mantém ateliê em duas cidades, Curitiba e Florianópolis.


Marta nasceu em 1964, em São Leopoldo. Veio de família alemã. A mãe era fiel às tradições e passava o ano pintando ovinhos de páscoa para vender na quaresma. À Marta, cabia ajudar na criação de personagens. Buscava o movimento nos quadrinhos, uma das escassas mídias em que era possível consumir histórias na época. Nas mãos dela, Pato Donald, Mickey Mouse e toda a turma Disney virou coelho.


O que levou Marta à faculdade de artes foi o desejo de ser professora. Já tinha feito magistério e chegou a dar aula para turmas de ensino fundamental. No entanto, foi o trabalho artístico que a fez seguir outro caminho. Marta conta que, à medida que foi avançando com os murais, desenvolvendo sua linguagem e estética, estudando as formas de inseri-los na arquitetura e nos espaços públicos, optou por se dedicar exclusivamente às suas obras. Enquanto muralista, fez cursos por aqui, no Brasil, e fora do país.


Marta sempre desenhou. Para ela, o desenho é como um diário, é cotidiano, dado seu formato e a mobilidade da caneta e papel. É a base de qualquer projeto. Pode virar uma escultura, algo tridimensional, ou uma pintura, e ganhar cor. Já nas telas, o processo é outro. Elas acontecem no encontro do pincel com o quadro. É um fluxo de consciência, livre associação, é íntimo, solitário, silencioso, como são as mulheres das suas pinturas.


Tempos de pandemia, “Levo meu tempo”


O período pandêmico marca uma particularidade na produção de Marta. Antes, os desenhos ficavam só no bico de pena e aquarelado. A artista era um tanto avessa ao colorido. No entanto, na pandemia, “as cores me salvaram, porque eram elas que traziam alegria pra mim”, conta Marta.


A pandemia também foi tempo de voltar ao passado, para quando Marta se deu conta de que era gente, em suas palavras. A produção se volta para a família, sua relação com a mãe e as irmãs. As obras conversam com suas primeiras influências, a arte sacra, o vestido da missa de domingo — que era, inclusive, herdado da irmã mais velha. Agora, passado o isolamento, Marta foi ao cinema pela primeira vez em dois anos. Viu o novo do Spielberg, The Fabelmans, e faz sua primeira exposição depois da pandemia, “Levo meu tempo”, na Artesil.


A exposição abre no sábado (25) e conta com mais de 30 obras, sendo 20 telas e 17 desenhos, a maioria produzidos durante o período de isolamento, e mais duas esculturas que já fazem parte do acervo da galeria. O nome, Levo meu tempo, é um convite à reflexão sobre o tempo de produção de cada obra, os tempos de pandemia e o tempo presente.


Exposição “Levo meu tempo”

Artestil Galeria de Arte

Alameda Carlos de Carvalho, 1663

Abertura: Sábado, 25 de março

Horário: 11h às 14h

Período expositivo: 25 de março até 29 de abril.

A Artesil está aberta de segunda à sexta, das 9h às 18h30, e sábado, das 11h às 14h.

 
 
 

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